22 de novembro de 2010

Marte


No outro dia, enquanto procurava uma determinada revista das Selecções do Reader's Digest para um trabalho da Xanca (sim, sim, sou uma excelente irmã, palminhas para mim!) na gaveta do armário da casa de banho - que é onde, inevitavelmente, elas param, mais cedo ou mais tarde, numa derradeira glória antes de serem remetidas para uma prateleira qualquer quando a gaveta deixa de fechar, e encontrei um artigo sobre Marte. O planeta vermelho.

Podia citar a revista como deve ser, mas não me apetece descer as escadas e ir buscá-la, por isso os jornalistas das Selecções que me desculpem, mas isto vai mesmo ficar assim.


O artigo informava, para quem quisesse ler, que a NASA estava a investir e a preparar o grande evento do nosso séc.: a ida do homem a Marte. Que homem não sei. O homem. Centenas de pessoas a trabalhar para aquilo, estilistas e cientistas a preparar o fato, para que seja leve e permita os movimentos do não sei quê, mais outros tantos cientistas e fisioterapeutas a arquitectar máquinas e planos de exercício, psicólogos para assegurar a sanidade do feito histórico, nomeadamente de quem vai participar nele, que vai permanecer fechado e longe do nosso planeta uns dois anos (fácil? Imaginem dois anos com as mesmas pessoas (ex: vossa melhor amiga(o) e vosso namorado(a) - em principio são até pessoas que vocês simpatizam), sem verem outras que não aquelas. Ah pois é...), a nave espacial, cálculos de tempo, de comida (inclusivamente estão a pensar pôr os astronautas a plantarem uns pés de alfaces em solo marciano - e isto não é ironia, está mesmo no artigo). Enfim, rios e rios de dinheiro e de tempo gastos naquilo.

Para quê?

Não percebo. O que é que Marte pode ter assim de tão interessante que o planeta terra não tenha? Marcianos?

Marte é um planeta árido, quente a mais, longe de mais, estéril de mais. Está bem que irá trazer avanços notáveis para a ciência e que provavelmente irá abrir-se um pouco mais a cortina do desconhecimento sobre origem do nosso próprio planeta, bem como se poderá elaborar planos de fuga para o caso de destruirmos por completo o planeta terra - o que não deve levar assim tanto tempo quanto isso, ao ritmo que isto está.

Não conhecemos as profundezas do Oceano mas conhecemos a superfície da lua (sim, também vejo Discovery Travel&Living). Tenho família que nunca vi, tenho família com quem nem sequer nunca falei. Não conheço metade dos meus vizinhos.

Nunca fui ao Porto, nem a Braga, nem a Viana do Castelo, nem ao Gerês, mas quero ir. Quero ir a Veneza, a Macau, ao Brasil, à Tailândia, à Tunísia, ao México. Quero voltar à Disneyland. Quero comer com pauzinhos sushi numa qualquer cidade do Japão. Quero subir aos Himalaias e rezar ao pé do Dalai Lama, os dois ao mesmo Deus. Quero ver um recife do coral e nadar ao pé de peixes de todas as cores.

Mesmo que comece agora e acabe no fim da minha vida, nunca vou conhecer tudo. Por mais que me esforce e por mais dinheiro que tenha.

Hoje na faculdade falámos do pouco que sabíamos sobre o cérebro (presque rien).

Acham que precisamos de Marte? Nem damos conta do que temos...

2 comentários:

  1. Excelente maneira de ver as coisas! Gostei muito :) Passamos a vida a dizer "Para conhecermos o outro, primeiro temos que nos conhecer a nós mesmos" mas na prática nunca aplicamos esta frase... Para quê pensar em grande, não é? Quando as melhores coisas são as mais pequeninas que estão mesmo ali ao pé de nós?

    Um grande beijinho da tua fã número um :D

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  2. rios de dinheiro e de tempo gastos numa coisa que, pelo menos para mim e para os normais civis, não irá mudar nada.
    isto só demonstra a sede do Homem de querer o que está para além das nossas hipóteses... em vez de se preocuparem com o HOJE, investem tudo em incertezas e sonhos. ai ai, temos de repensar as nossas prioridades... =)

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