10 de outubro de 2011

Brincar com bonecas

Eu assumo sem vergonhas: eu brinquei com bonecas!!! A seguir a brincar com a minha irmã e a seguir a brincar com a minha amiga Luísa, muito mais do que ver episódios do Doraemon, o que eu fazia mais era brincar com bonecas.
Muitos dramas se desenrolaram no chão da arrecadação (quarto dos brinquedos, tá?). E a nossa imaginação (minha e da minha irmã) não tinha precedentes: apesar de nunca brincarmos uma com a outra - a minha irmã sempre teve ideais de vida das bonecas diferentes dos meus - as nossas ideias para potenciarmos a parapenólia de tralha a que chamávamos brinquedos eram bastante similares.
Eu era fiel à minha Barbie. Barbie que chamava barbie mas na verdade era uma Nancy. Nada igual às Nancys de agora, com aquela cabeçorra descomunal. A minha Nancy era loira, de olhos azuis, cabelo sedoso, cara meiguinha e corpo mais ou menos proporcional. Muito mais simpática que a Barbie. Tinha um defeito: não dobrava os braços. Como se isso fosse algum problema!
Pois bem, a minha mãe nunca foi de me comprar brinquedos, e naquela altura as barbies eram caras (e agora continuam caras), portanto nunca no Natal fui contemplada com um Ken musculoso e moreno. Mas eu também não me importava, porque a minha boneca Nancy, baptizada de Laura (blhac, mas naquela altura gostava de nomes como Laura, Florinda, Banana...) era casada, nada mais nada menos, do que com uma boneca de plástico comprada na loja dos trezentos (sim, na altura não havia lojas dos chineses). E admito também sem medos: a minha boneca foi sem dúvida a primeira boneca lésbica de Portugal, e ainda por cima uma boneca de classe social mais baixa (porque as Nancys, apesar de inferiores à barbie, tinham muito mais classe que as bonecas das lojas dos trezentos). Aquilo parecia-me tudo muito normal (por isso é que acho ridículo as pessoas preocuparem-se tanto com a cena das crianças e dos homossexuais, mas isso fica para outro post), até que os meus conhecimentos mais avançados em matéria de como se fazem os bebés não permitirem o matrimónio entre duas meninas (claramente a adopção não se punha em questão, os meus bebés tinham de ter os genes Nancy). Então a minha boneca lésbica de plástico da loja dos trezentos foi transformada no transsexual Filipe, apesar de na altura não saber nomes técnicos e a transformação de mulher para homem se fazer num segundo: o tempo que demorei a cortar-lhe os caracóis (sim, que a boneca tinha permanente). O facto de continuar a ter maminhas não fazia diferença alguma (lembro-me agora que a minha irmã fez o mesmo ao dela, mas nem se deu ao trabalho de lhe cortar as tranças. Sempre foi muito mais prática que eu...).
Da mesma maneira com que traçava estes quadros familiares complexos, inventava objectos do lar para eles: lembro-me, por exemplo, que os telefones eram improvisados com peças de puzzle colada à parede com plasticina (tipo pasta post-it). A plasticina na altura era multifunções e podia ser transformada em variados géneros alimentares, tais como batatas, que eu adorava pôr a boneca a fingir que descascava. E bolinhos com cobertura e uma cereja no topo.Tempos felizes aqueles!
Agora continuo a gostar de brincar com bonecas, mas não com a minha Nancy e o seu marido transsexual, coitados, que estão encaixotados ao tempo (mais ainda guardados religiosamente, para gerações vindouras), mas sim com uma das melhores invenções do séc. XXI: os Sims!
A minha família Sims é tão ou mais complexa que as minhas vidas imaginárias com as bonecas de plástico. E o que são os sims mais do que barbies virtuais? E com muito mais acessórios! É o paraíso para quem gosta de brincar a todas as vidas que não a sua! Neste momento, a minha "família" chama-se Afonso Cohen, sou casada com um gajo todo bom, apesar de ter ficado idoso recentemente, chamado Ismael, e temos como filhos o adolescente Isaac, que será cozinheiro e me vai dar dois netos (porque eu sou deus, nos sims), a adolescente Ibraíma, que adoptei pequenina, que vai ser mãe solteira, abrir um salão de cabeleireiro e pintar quadros nos tempos livres, e por fim o meu Pedro, ainda criança mas já com o seu futuro traçado, cujo objectivo principal de vida será maximizar todas as capacidades e casar com o meu amaricado empregado das limpezas.   
Acho que não mudei assim tanto.
Hei-de ilustrar este post com fotos familiares dos sims. Só para partilhar convosco a minha felicidade conjugal...

1 comentário:

  1. hahahaha o que eu me ri com este post!!
    É verdade, fartávamo-nos de brincar com as bonecas... não havia kens, paciência, usavam-se outras bonecas XD
    Eu nem me dei ao trabalho de cortar as tranças à minha boneca, mas verdade seja dita que não era nada feminina...até passava muito bem como boneco macho :P
    Os sims são o melhor jogo de todos e acabou! Fez com que continuasse a brincar com bonecas mas que já não parecesse tão mal :)
    Beijinhos e abracinhos*

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